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Psicologia e mídia: algumas considerações


Em tempos de Google, redes sociais e de uma enxurrada de informações, penso ser importante iniciar as reflexões deste ano, discutindo sobre a psicologia enquanto ciência e profissão.


É muito comum o profissional utilizar a internet e redes sociais para divulgar e dialogar sobre seu trabalho. Ponto esse muito importante, haja vista o alcance que se tem a partir das diversas formas atuais de divulgação e marketing. O psicólogo entra também nessa era tecnológica e, contudo tem a possibilidade de levar cada vez mais longe o saber psicológico e suas interfaces.


No entanto, ao passo que temos a tecnologia ao nosso favor, enquanto profissionais, temos também o desafio de garantir a qualidade dos conteúdos que circulam através da internet. É de extrema responsabilidade uma publicação referente a psicologia, a saúde mental, aos sofrimentos existenciais, aos traumas e fragilidades emocionais. Percebe-se que a psicologia ainda é uma profissão nova, portanto, ainda pouco conhecida e muitas das vezes mal compreendida pela população de modo geral. Neste sentido, mais importante ainda que estejamos atentos em clarear e desmistificar a psicologia e seu fazer.


A psicologia foi regulamentada enquanto profissão no Brasil através da Lei 4119/62. O profissional tem uma formação de cinco anos em curso superior. Tem um código de ética que rege suas práticas e os Conselhos que orientam e fiscalizam a profissão. A psicologia está presente em variados campos de atuação. Na saúde, educação, assistência social, direitos humanos, dentre outras. Em todas essas áreas há pautas articuladas com a psicologia.


A psicologia trata os conflitos existenciais, as fragilidades emocionais, as dores e/ou traumas vivenciados. E trata através de métodos, técnicas e abordagens profundamente estudadas pra este fim. Na psicoterapia, o tratamento acontece através de sessões de terapia, nos quais o profissional escuta, acolhe e ajuda o paciente ir tecendo sua história, elaborando e resinificando suas vivências de forma que este possa alcançar autonomia, autenticidade e resiliência. E assim possa ter uma vida com mais saúde mental e emocional.


Mas vale ressaltar que não se trata de mera conversa, nem sessão de aconselhamento. O profissional tem uma bagagem teórica que o orienta a conduzir de forma mais adequada e ir auxiliando no processo do paciente. No entanto, percebe-se algumas publicidades que banalizam esse trabalho e reduzem a psicoterapia a um momento de desabafo, um bate-papo. (Exemplo: “Psicólogo está caro? Converse com o taxista.” Esta foi uma publicidade de um aplicativo de táxi, que foi devidamente notificado e que na oportunidade se retratou e tirou do ar tal campanha).


Recentemente, ocorreu um equivoco de uma rede de televisão que através de sua novela “O Outro lado do Paraíso” (2018), retratou um assunto complexo, que é o abuso sexual intrafamiliar, dado como opção de tratamento uma intervenção que foge das abordagens psicológicas. Em uma das cenas onde abordava sobre o abuso sexual sofrido por uma das personagens, é indicado que o tratamento fosse conduzido através de sessões de coaching, que é uma formação em que profissionais com diversas graduações podem se especializar, e que no caso da novela ainda se agrava a terapia foi feita por uma advogada com técnicas que são exclusivas da psicologia, indicada para ajudá-la a superar um trauma com sessões de Hipnose Ericksoniana. Sabe-se que sofrimento mental e emocional são tratados em atendimentos psicológicos com profissionais devidamente habilitados. Dessa forma, a obra de ficção não reconhece os profissionais, as práticas, pesquisas e construção da psicologia enquanto ciência e profissão e que tem como foco de estudo e atuação o sofrimento humano.


“É consenso no Brasil de que pessoas com sofrimento mental, emocional e existencial intenso devem procurar atendimento psicológico com profissionais da Psicologia, pois são os que tem a habilitação adequada. Isso é amplamente reconhecido por diversas políticas públicas, entre elas o Sistema Único de Saúde (SUS) e o Sistema Único de Assistência Social (SUAS), que empregam essas profissionais em larga escala. Mesmo na saúde suplementar, o exercício do cuidado psicológico é reconhecido e regulamentado. Há normas da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) que obrigam os planos de saúde a oferecerem atendimento por profissionais da Psicologia.

Somos uma profissão regulamentada pela Lei 4.119, de 27 de agosto de 1962, os cursos de Psicologia são aprovados e fiscalizados pelo Ministério da Educação e o Ministério da Saúde reconhece a Psicologia como uma profissão da saúde. As mais prestigiadas universidades públicas e privadas oferecem formação em Psicologia e nossa ciência e profissão passam rotineiramente pelo escrutínio das pesquisas acadêmicas. Tudo isso confere segurança à sociedade de que se trata de uma ciência e profissão respaldadas ética e tecnicamente.”

Conselho Federal de Psicologia, 05/02/2018.

Diante das discussões apontadas, ressalta-se a extrema responsabilidade dos profissionais ao divulgar trabalhos e conteúdos relacionados à psicologia. Na mesma medida que pode-se ajudar um grande número de pessoas, pode-se também prejudicar e até contribuir para o adoecimento. Cabe um cuidado do leitor e/ou paciente ao buscar conteúdos nas redes sociais de assegurar-se da credibilidade e veracidade. Fazer comparações, manter uma leitura atenta e crítica.


Por fim, a atualidade coloca alguns desafios para a ciência e para as práticas psicológicas, no que se refere a essa velocidade e alcance das redes sociais em contraponto com a qualidade das publicações. Bem como, o desafio de estar comprometida e próxima da realidade social e da população. Desafio de se comprometer com a pluralidade, com as questões sociais e humanas que nos cercam. Tem o desafio de não se perder enquanto ciência diante de tamanha complexidade das questões que a envolvem e mais ainda de estar a serviço de todas e todos.

Referência Bibliografica:

https://site.cfp.org.br/toda-psicologia-nos-interessa-55-anos-da-profissao-no-brasil/

http://site.cfp.org.br/o-outro-lado-do-paraiso-presta-desservico-populacao-brasileira/

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